Outro dia estava conversando com um jovem pensante e uma frase que ele me disse me chamou muito a atenção. Ele me disse que não era para eu me animar muito com a perspectiva de falar sobre projetos de vida com jovens e adolescentes, pois esta geração não quer saber de pensar. Ela quer simplesmente viver. Disse ainda que a maioria deles não está preocupada com seus projetos pessoais, nem mesmo com os mais prementes, como o profissional e educacional.
Pensei, então: que geração é essa que quer dominar o mundo sem nem ao menos parar um pouco pra pensar? Talvez o problema esteja exatamente aí: parar. Eles não têm tempo a perder.
Porém, pensar é tão natural quanto respirar! Pensar é viver! Não há como escapar...
Outra fala importante deste garoto é que essa mesma geração não está preocupada com dinheiro. Alguns dos jovens de seu ambiente de convivência, inclusive escolar, vêm de família abastada e não tem com o que se preocupar. Será?
Eu, diante disto, respondi.
Primeiramente que a característica de querer simplesmente deixar a vida me levar, sem pensar muito nas conseqüências deste tipo de atitude, não é privilégio da geração dele.
Como disse Guimarães Rosa, “Viver é perigoso! É preciso ter coragem!”. Coragem de assumir a direção e sermos senhores do nosso destino.
Não estamos acostumados a pensar em projetos de vida. Mais que isso, não estamos acostumados a gerir projetos. Não aprendemos a fazer isto. Nossos pais não aprenderam a fazer isto. Nossos avôs não aprenderam a fazer isto. Raríssimas exceções.
Qualquer nível de organização seja empresarial, governamental, institucional, comunitária, beneficente, religiosa, educacional, artística, familiar, ..., ainda sofre com a falta de cultura em gestão de projetos dos indivíduos que a compõe.
Além disso, a realidade financeira da maioria esmagadora das famílias dos jovens que vivem em nosso país não é similar à daqueles que deixam suas escolas particulares para fazer intercâmbio no exterior. Muitos destes jovens, exatamente por não terem com o que se preocupar, acabam por torrar a fortuna familiar em prazeres pessoais e nada construtivos e acabam por ter que enfrentar a falência. E aí? Como vai ser daí pra frente?
Se não sabemos gerir nossos projetos de vida, como pretendemos repassar isso para nossos filhos? Como instigarmos nossos filhos a pensar em seus propósitos de vida, em escolher suas profissões alinhadas aos seus talentos e com aquilo que os faz feliz? Como ensinar nossos filhos a lidar com o dinheiro saudável e positivamente, sem culpas nem punições pelo desejo de enriquecermos, e sem colocarmos o dinheiro como meta principal, mas enxergá-lo como conseqüência natural de uma boa gestão dos nossos projetos de vida? Como ensinar nossos filhos que o princípio criativo de tudo é o amor, ou a falta dele? Como sensibilizá-los a ouvir um pouco mais o sábio coração que bate dentro do nosso peito? Como despertar em nossos filhos a consciência da responsabilidade social? Como despertar em nossos filhos o respeito e amor à natureza?
Enfim, como motivarmos nossos filhos a pensarem em seus projetos de vida, se nós mesmos não o fazemos e não damos a ele o menor valor, a menor importância?
Será que ninguém pensou que é possível conciliar as duas coisas, pensar e viver, viver e pensar, e de bônus ainda sermos mais felizes?
“Feliz aquele que transfere o que sabe ... e aprende o que ensina”
Cora Coralina
Sheila Cristina Falinacia Barbosa (Tuesday, 10 August 2010 14:55)
Olá Alessandra,
Òtimo post, concordo quanto a aprendermos a gerir nossos projetos de vida, a fim de não nos tornarmos pessoas frustradas, que escolheram profissões por simples questões de mercado e derepente se deu conta de que não tinha nada a ver com seu objetivo de vida.
Quanto a "falta" de pensamento da geração atual, deveríamos pensar quanto mães e pais sobre nossa colaboração para essa questão que é um fato preocupante. Prezo que devemos construir uma sociedade com pensamento crítico, que saiba absorver as informações e se posicionar diante dos fatos.
Mais uma vez, parabéns.
beijo,
Sheila.
Dariane Cristina (Monday, 16 August 2010 11:13)
Alessandra, parabéns!
Acredito que este post retrate muito bem a falta de orientação e consciência dos jovens hoje! A falta de cuidado com seu próprio futuro por ignorar a importância que isto terá daqui uns anos!
Abraço,
Dariane.